Sempre que estou dando aulas sobre história da cerveja (novo e velho mundo), estilos e famílias cervejeiras, é normal algum aluno me perguntar:
- “Existe uma ligação entre o território e a cerveja?"
- “Existe uma ligação entre o território e a cerveja?"
Todos sabemos que a cerveja (ao contrario do vinho) pode ser produzida em qualquer parte do mundo. Na última aula que lecionei acabei citando a Gose entre as especialidades a risco de extinção, sendo ainda produzida somente por três cervejarias em toda a Alemanha. Mas morando por 8 anos na Itália me lembrei que esse estilo é fabricado por alguns produtores fora do território alemão, dos quais algumas micro-cervejarias italianas, a Saltinmalto da cervejaria Bi-Du e a Marsilia da cervejaria Amiata.
Pessoalmente, tenho dificuldade em considerar o estilo Gose como cervejas simplesmente feitas com sal e trigo fora da zona de “nascimento” do estilo (cidade de Leipzig e periferia), mas a história da cerveja em geral pede uma reflexão mais profunda.
Vamos pensar, por exemplo, no estilo Blanche/Witbier. A origem desse estilo foi sempre lembrada e caracterizada por uma determinada região da Bélgica, até que a quase extinção do estilo, por causa do crescimento popular das cervejas industriais, tornou-se eminente.
Vamos pensar, por exemplo, no estilo Blanche/Witbier. A origem desse estilo foi sempre lembrada e caracterizada por uma determinada região da Bélgica, até que a quase extinção do estilo, por causa do crescimento popular das cervejas industriais, tornou-se eminente.
Pierre Celis, um grande mestre cervejeiro, falecido em 2011, desenterrou a receita original dando um novo futuro para esse estilo muito particular. Hoje podemos afirmar com toda certeza que o estilo Blanche/Witbier gozam de ótima saúde, devido ao fato de serem produzidas em cervejarias ao redor do mundo. Quantas Blanche/Witbier existem hoje? Com certeza centenas, o risco de extinção já é um passado remoto.
Típica bandeja usada nos bares de Köln |
Diferentemente
dos estilos citados no início desse post, eu tenho dificuldade em
considerar essas especialidades como tais, fora da região de
nascimento. Então fica difícil, pra mim, considerar 100% uma Kölsch
produzida em solo brasileiro (por exemplo Eisenbahn), ou uma de solo
italiano Rodersch (cervejaria Bi-Du), mesmo conceito para uma Sticher (Altbier mais encorpada e alcólica) da cervejaria italiana Grado Plato.
Se uma Kölsch não é produzida em Köln, aceitar essa denominação fica complicado. O mesmo discurso se uma Altbier não é produzida em Düsseldorf, ecc...
Publicidade de uma Berliner Weiss, no passado normalmente bebido também por crianças. |
Não sei se pra vocês essa regra conta. Nesse caso eu me coloco na frente de algumas dúvidas: existe algum sentido associar certo estilos a uma zona de origem?
Alguns estilos vão conseguir se salvarem do risco de extinção se no próprio nome são legados por territórios precisos?
É correto considerar Kölsch, Altbier ou Gose produzidas fora da zona de origem?
Cheers
Doug
Interessante indagação. Ao mesmo tempo que acho que deveria haver uma restrição geográfica (vide Champanhe/Espumante) eu acho que a homenagem e tradição perduram com o nome que se espalha ao correr o mundo. Por ex, Irishs Red ale, Vienna, e outros como a própria Pilsen, maior sinônimo de sucesso. Acho que poderiam perdurar e se espalhar tais estilos e lógico, se eu fosse um produtor de Berliner Weisse e morasse em Berlim, estamparia bem grande no rótulo. Berliner FROM BERLIM. É o mesmo que acontece quando vou ao mercado comprar tomate pelatti, opto sempre pelo "prodotto in Italia" pelo Know how e tradição italianos nesse produto. É o mesmo que te colocar para escolher entre uma roda de samba paulista e uma carioca, certamente escolherá a carioca.
ResponderExcluir